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A morte, essa (des)conhecida

Diária, intensa e insistentemente. Somos provocados a pensar na morte ao vermos, ouvirmos e lermos tantas notícias sobre perdas, ausências e rupturas de relações com a vida. A morte frequenta, hoje, o nosso cotidiano mais do que os testemunhos de vida, não só nos meios de comunicação, como nas relações interpessoais.

É verdade, como lembram muitos pensadores, que à medida que os anos passam e o anoitecer se aproxima, a consciência de que somos frágeis e transitórios se torna mais nítida e presente no dia a dia. Confesso que, pessoalmente, percebo, cada vez com maior nitidez, que o tempo a vencer escasseia a cada hora, a cada minuto. Não é temor (talvez inconscientemente seja), mas ciência e consciência de que somos assim, seres em trânsito.

Há acontecimentos, às vezes, tão próximos e palpáveis, que confirmam o que sentimos. Eles marcam a nossa vida, especialmente quando o adeus é dos nossos queridos. Perdi meu irmão João, que caiu numa escada, quando se dirigia a uma celebração em igreja próxima do seu apartamento. Espiritualmente, antecipou seu encontro com o Deus da sua fé. Foi o que ouvi de amigos sobre aquele trágico momento.

Um consolo, é verdade, para uma queda, uma notícia, um adeus! Assim somos: transitórios e imprevisíveis no escrever a própria história. Lembro-me, também, de um amigo descrente que, ao tomar conhecimento do fato assim tão amargo, declarou-me: "Tenho inveja, nessa hora, de quem tem fé, porque, para ele, o último suspiro não é o último momento."

A morte, tão conhecida de todos, é, no entanto, desconhecida no andar da vida de cada ser humano. Por quê? É verdade que a fé ilumina o caminho, oferecendo aos crentes uma certeza. Mas importa reconhecer a morte. Em qualquer circunstância, é sempre um grave ponto de interrogação, tanto para crentes quanto para descrentes que sentem, na dor, o vazio de uma explicação que nunca chega suficiente.

Se encontrássemos a morte em idade avançada, a explicação do acontecimento estaria facilmente ao alcance de todos. Como nem sempre assim acontece, onde o imprevisível é o certo, o jeito é conviver com a incerteza e o mistério. Seja um labirinto, uma pergunta sem resposta, um caminho em que o roteiro é desconhecido, seja o que for, a morte ainda é o que é, uma desconhecida!

Texto: Máximo Trevisan
Advogado e escritor

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